No caso dos desenhos deste livro, como eu pude escolher entre 42 poesias para ilustrar apenas sete e como, ao contrário da maioria dos trabalhos que faço em ilustração, tinha tempo para executá-los, a experiência ficou mais prazerosa. Selecionei 12 textos e rascunhei a partir de imagens que me surgiam com as leituras, experimentando o máximo possível. Depois das primeiras ideias, busquei uma identidade para os desenhos, tendo as listras como unidade em meio ao caos. Na sequência, escolhi sete ilustrações e fiz as versões finais a lápis, deixando o traço mais solto, livre e incorporando os erros do processo. *** Na hora da edição, decidimos que os desenhos seriam apresentados arbitrariamente, pois eles refletem temas que permeiam o livro todo. O equilibrista, por exemplo, é imagem dos trabalhadores do verso, sempre na corda bamba. Os animais, o cachorro e a galinha, sugerem liberdade e prisão. O vira-lata da rua é livre, mas a natureza do cão sempre o faz querer ter um humano por perto, um dono (ou tutor, como dizem os defensores dos animais). A galinha é ave, mas não voa. A arte é livre, mas o haicai tem suas regras. O copo armazena o uísque, a cerveja, a água -- líquidos presentes em vários haicais. A moça gorda é a inspiração, uma musa corpulenta, pesada. O escritor desmembrado fecha o pacote, fragmentado como os pensamentos do ilustrador. FP Rodrigues
|